O título da obra refere-se a um conceito da ciência política sobre o nível de aceitação do povo em determinado assunto. A janela é um indicador dentro de uma linha que pende entre dois extremos. Seguindo o exemplo dado pelo próprio protagonista da trama: se, de uma hora para outra, nosso governo julgue necessário despir todos os passageiros de um aeroporto, torturá-los e confiscar seus bens em prol da segurança nacional, a opinião pública irá repudiar tal atitude. Contudo, certos mecanismos de propaganda destilados em nossos conceitos através dos meios de comunicação poderão alterar essa opinião. Assim a janela desloca-se para a direção que o Estado deseja. Um exemplo é a onda de propaganda antiterrorismo produzida pelos EUA desde o 11 de Setembro. “Todo cuidado é pouco” eles dizem. Assim, ativando o medo e julgando-se os protetores da humanidade, eles conseguem o beneplácito do povo para dar credibilidade as suas guerras contra as tiranias do mundo todo. Uma arma invisível e extremamente eficaz.
No romance, Noah Gardner filho de Arthur Gardner, bilionário no ramo do marketing político, entra em contato com uma organização de rebeldes que o faz enxergar o mundo por outro prisma e descobrir um plano secreto para estabelecer uma nova ordem mundial e econômica. Seu romance com Molly, líder da organização, serve de pretexto para elucidar ao leitor as principais ideias por trás do pensamento de Glenn Beck.
Com pitadas de blockbuster enlatado, o livro propicia ao leitor algumas passagens repletas de ação e movimento, tornando o livro muito versátil por não se ater somente ao aspecto “apocalíptico” que promete logo na capa com o mote: “uma conspiração vem sendo preparada para destruir os EUA há anos...”.
Admito que o desfecho da trama deixou a desejar com sua nebulosidade. Tudo fica em aberto, sem recompensas nem punições, como nós, bons leitores condicionados ao maniqueísmo literário, estamos acostumados. Arthur Gardner representa o vilão bilionário que está embriagado por sua própria cobiça, mas, sobretudo, assolado por um tédio insuportável. Abalar os pilares da civilização é o que necessita para divertir-se um pouco. Um personagem que merecia mais atenção para tornar-se marcante, porém um pouco desprezado por Glenn Beck no decorrer da trama. Por outro lado, Noah é o grande heroi, que apesar de todo poder e riqueza, possui princípios e rende-se aos ideais quixotescos da sua amada Molly.
O livro é permeado, também, por toda aquele já conhecido e tão austero nacionalismo Norte-Americano. Isso fica explícito quando são citados os sermões patrioticos de Thomas Jefferson e outros lideres idealistas dos EUA por parte de Molly, que os repete diariamente como um mantra.
Conspirações, grupos secretos, previsões diabólicas para o mundo, o livro A Janela de Overton é um prato cheio aos desconfiados de plantão, que enxergam uma boa conspiração em cada esquina.
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