sábado, 6 de agosto de 2011 | By: Leonardo Ramos

Contemple o mundo através da Janela

Há um inimigo invisível que espalha veneno por todas as sociedades do mundo. Somos afetados por ele todos os dias e, geralmente, concordamos com suas ideias sórdidas. É uma besta muito persuasiva: a propaganda ideológica. Tal fera, cria preferida de todos os governos do mundo, é a grande antagonista do romance A janela de Overton do economista Glenn Beck (editora Novo Conceito).
O título da obra refere-se a um conceito da ciência política sobre o nível de aceitação do povo em determinado assunto. A janela é um indicador dentro de uma linha que pende entre dois extremos. Seguindo o exemplo dado pelo próprio protagonista da trama: se, de uma hora para outra, nosso governo julgue necessário despir todos os passageiros de um aeroporto, torturá-los e confiscar seus bens em prol da segurança nacional, a opinião pública irá repudiar tal atitude. Contudo, certos mecanismos de propaganda destilados em nossos conceitos através dos meios de comunicação poderão alterar essa opinião. Assim a janela desloca-se para a direção que o Estado deseja. Um exemplo é a onda de propaganda antiterrorismo produzida pelos EUA desde o 11 de Setembro. “Todo cuidado é pouco” eles dizem. Assim, ativando o medo e julgando-se os protetores da humanidade, eles conseguem o beneplácito do povo para dar credibilidade as suas guerras contra as tiranias do mundo todo. Uma arma invisível e extremamente eficaz.
No romance, Noah Gardner filho de Arthur Gardner, bilionário no ramo do marketing político, entra em contato com uma organização de rebeldes que o faz enxergar o mundo por outro prisma e descobrir um plano secreto para estabelecer uma nova ordem mundial e econômica. Seu romance com Molly, líder da organização, serve de pretexto para elucidar ao leitor as principais ideias por trás do pensamento de Glenn Beck.
Com pitadas de blockbuster enlatado, o livro propicia ao leitor algumas passagens repletas de ação e movimento, tornando o livro muito versátil por não se ater somente ao aspecto “apocalíptico” que promete logo na capa com o mote: “uma conspiração vem sendo preparada para destruir os EUA há anos...”.
Admito que o desfecho da trama deixou a desejar com sua nebulosidade. Tudo fica em aberto, sem recompensas nem punições, como nós, bons leitores condicionados ao maniqueísmo literário, estamos acostumados. Arthur Gardner representa o vilão bilionário que está embriagado por sua própria cobiça, mas, sobretudo, assolado por um tédio insuportável. Abalar os pilares da civilização é o que necessita para divertir-se um pouco. Um personagem que merecia mais atenção para tornar-se marcante, porém um pouco desprezado por Glenn Beck no decorrer da trama. Por outro lado, Noah é o grande heroi, que apesar de todo poder e riqueza, possui princípios e rende-se aos ideais quixotescos da sua amada Molly.
O livro é permeado, também, por toda aquele já conhecido e tão austero nacionalismo Norte-Americano. Isso fica explícito quando são citados os sermões patrioticos de Thomas Jefferson e outros lideres idealistas dos EUA por parte de Molly, que os repete diariamente como um mantra.
Conspirações, grupos secretos, previsões diabólicas para o mundo, o livro A Janela de Overton é um prato cheio aos desconfiados de plantão, que enxergam uma boa conspiração em cada esquina.

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