quarta-feira, 13 de julho de 2011 | By: Daniela

O ministério dos corretores de redação adverte: usar palavra cujo significado é desconhecido faz mal à compreensão


Escrever bonito é tentador. Ainda mais quando você descobre uma palavra nova, com um som bonito, passando ao texto um ar de importante, e, por que não, elegante...

É fato que existem roupas que não nos caem bem. Seja pelo tamanho, pela estampa, ao invés de embelezar, acabam nos deixando feios. Não combinam, fazer o quê? Do mesmo modo, há palavras que não combinam de jeito nenhum com as idéias que queremos expor. O problema é que ao desejamos mostrar domínio de vocabulário, mas será que vale a pena se arriscar assim? Veja o texto abaixo, cuja proposta pedia que se produzisse uma dissertação refletindo ou explicando sobre a criação de uma paixão nacional:

“É. Como sempre temos um fim de semana ou melhor a semana inteira ou durante as férias para usufluirmos um empecilho melhor em nossa vida. Procuramos algo de melhor para podermos divertirmos socialmente: Durante vivemos na rotina do trabalho, mas enfim chega o final de semana tão arrogante, com todas as suas injúrias à espera das negligentes pessoas que quando chegam querem usufluir exageradamente do sábado e do domingo. No fim de semana as horas passam tão rápido que as pessoas ficam horrorizadas, sufocadas querendo aproveitá-lo de uma maneira radical. Exigindo tudo o que tem direito, às vezes chegam até ao ponto de se suicidarem com tanta violência, rapidez porque tem que aproveitar o fim de semana. E com isso outros curtem o fim de semana com paz, harmonia agilidade e com muita animação para que as horas possam passar lentamente porque o que é bom dura pouco como essa paixão nacional que é o final de semana.”

Esse usou marca de oralidade logo de primeira, afinal iniciar uma dissertação lascando um “é” na cara do leitor não tem nada de chique e formal. Linguagem coloquial tem seu lugar, mas fora do texto dissertativo.

Além disso, como seria “usufluir um empecilho”? (“Usuflua com moderação”, talvez o autor retrucasse). E que violência é essa que faz as pessoas "se suicidarem" (com direito a redundância e tudo) enquanto outras “curtem o fim de semana com paz”? Certamente, ele quis dizer que há pessoas que se excedem nos vícios, como álcool e drogas e acabam envolvidas em “situações suicidas”, ou ainda, vítimas do consumo desenfreado.

Temos também uma personificação brusca do pobre final de semana: a ele são impostas características humanas como a "arrogância", além de ser algo capaz de trazer "injúrias", ou melhor, ofensas para as "negligentes pessoas"(digno de um vilão que se preze). Assim como quis fazer uma comparação entre pessoas que sabem aproveitar a folga com tranquilidade e juízo e as que não o conseguem.

Há a pergunta que não quer calar: seria o final de semana algo tão horripilante para ficarmos "horrorizados" a ponto de aproveitá-lo a todo o custo? :o

Poderia ser interessante ficar aqui conjecturando sobre o milk shake de ideias feito pelo autor, mas, convenhamos, corretor algum fica quebrando a cabeça para entender o que o candidato quis dizer. Para a banca, é questão de saber ou não se expressar. Se as ideias estão expostas claramente, ponto mais para o candidato. Caso contrário, não se perde tempo fazendo ginástica cerebral para entender a trama. Lembremos que facilitar o trabalho do corretor, escrevendo com clareza, não é pedir demais.

Em matéria de ideias, o texto trouxe palavra fortes. Sem dúvida, a intenção do candidato foi a de impressionar a banca, mostrando sua capacidade de polemizar, de perceber os problemas sociais na "construção de uma paixão nacional". Contudo, não foi essa a mensagem deixada. Parece mais uma vinda de algum outro ponto do espaço sideral. Algo que aparenta não se relacionar com o nosso cotidiano, não é mesmo?

Tudo isso devido a um problema sério: não conhecer o significado de uma palavra e aplicá-la indiscriminadamente em um texto, o que resulta em confusão e incoerência. Esses são alguns dos males proporcionados pela falta de leitura e intimidade com as palavras. Ora, se as palavras são as armas que você tem nesse momento decisivo, nada mais importante do que conhecer bem essas armas, ou seja, os significados delas para não cair em armadilhas, como a do camarada acima.

Cautela é sempre bom quando você não domina os significados das palavras. Na dúvida, use sinônimos ou expressões equivalentes. Nisso as palavras cruzadas, apesar de tachadas como passatempo do vovô, são ótimas para ajudar a memorizar sinônimos e estimular a memória,

Redigir adequadamente para o ENEM é coisa séria. Usufrua das palavras com moderação.

0 comentários:

Postar um comentário