sábado, 7 de maio de 2011 | By: Daniela

A passagem - uma agradável descoberta


Sábado, abril. Estava em uma livraria, procurando avidamente algum livro interessante. Fiquei na dúvida entre O labirinto" de Kate Mosse e "A passagem", de Justin Cronin. O preço atrativo e as informações na orelha da capa me fizeram ficar com a última opção. E juro que não me arrependi.
Assim como juro também que eu acreditei que me arrependeria. A história tem tudo para ser mais um clichê num mercado saturado de livros sobre vampiros e coisas do gênero. Imaginei, meio a contragosto, mais uma história em que beldades imortais se envolveriam com pobres mortais a caminho da vida eterna. O que havia me desanimado, também, foi ter lido críticas que confirmaram que a história desse livro não passava de uma cópia adaptada de “Eu sou a lenda”. Mas como gostei desse filme, resolvi dar uma oportunidade ao livro e lá fui eu para casa, com as 700 e tantas páginas debaixo do braço. Deve ter muito assunto – pensei. E tinha.
Já no ônibus, o livro me fisgou na primeira linha com as citações de Shakespeare e a história de Amy,
antes de se tornar a garota de lugar nenhum...
Lá pela página 16, uma moça sentada ao meu lado fez questão que eu mostrasse a capa do livro – é
A passagem – eu disse, com ar triunfante. Nessa altura, eu já tinha consciência de que havia feito uma boa escolha. E, pelo visto, a moça foi fisgada também na leitura clandestina e por talvez ter percebido meu interesse nas páginas, o que não me deixou desgrudar a vista para fitar a janela um segundo sequer.
Fiquei feliz em ter me enganado redondamente. Essa não é mais uma história clichê sobre vampiros. Muito embora não escape de alguns sensos comuns, ela é recheada de situações insólitas. Os seres vampirescos, segundo as descrições, lembram demônios das pinturas da idade média e não têm nada de românticos. Ao contrário do que vemos em vários livros, eles não lutam para conviverem com humanos ou se sentirem como tais e sim contra um tipo de submissão a uma mente mais forte, em meio à uma
angustiante (e inconsciente) busca pela própria identidade.
Sinceramente, eu me senti mal a cada momento em que tive que abandonar a leitura, porque a história é tão absorvente que você deseja logo chegar ao próximo capítulo, avançando com os muitos personagens, em todas as frentes. E esses vários personagens não são labirintos, do tipo que são criados apenas para fazer volume de modo que você se perca. Cada um tem sua história, visão de mundo, incertezas, angústias. Há reviravoltas, ganhos e perdas típicos da condição humana.
A história se desdobra no tempo sem se esgotar. O autor soube entrelaçar muitas tramas, cada fio ligado a um personagem e entrecruzando os fios de tantos outros. O narrador se desloca em vários ambientes, seja através do tempo, num futuro devastado e sem esperança, seja a partir das mentes dos personagens e seu mundo interior; é um livro que instiga a leitura no decorrer da trama.
Há também as cenas cinematográficas, como não poderia deixar de ter, mas temperam bem a trama sem deixar a peteca cair.
Para um livro comercial, ele surpreende pela verossimilhança e detalhismo.
A passagem é imperdível para quem aprecia ficção!

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